Danúbio / Duba
DANÚBIO ARAÚJO LACERDA, músico e compositor, forjou a sua personalidade, tendo nascido em 15 de fevereiro de 1948, na lendária cidade de Delmiro Gouveia-AL, situada no alto sertão alagoano, fazendo divisa com os estados de Sergipe, Bahia e Pernambuco. Teve contato, desde os oito anos de idade, com o Canyon do Rio São Francisco, pois o seu Pai, José Raul Lacerda, então Gerente da Fábrica da Pedra, por diversas ocasiões visitava a Usina Hidrelétrica de Angiquinho com o menino nos ombros, ladeado por eletricistas que ali chegavam, após um trecho percorrido por trólebus, até uma escada helicoidal, descendo a garganta do Velho Chico, para dar manutenção nas máquinas, muitas das vezes afogadas pelas cheias do rio, que geravam energia elétrica e bombeavam, simultaneamente, água para a fábrica de linhas e fios - e utilizada igualmente para o fornecimento de luz elétrica à Vila Operária da Pedra, onde residiam os trabalhadores da fábrica, que podiam dispor, além da iluminação, de água encanada em suas casas, situada a 23 km de distância da fonte de geração.
Na segunda metade dos anos 50, Danúbio chegou a descer até a base de uma das ensecadeiras, ficando em sua mente algo de grandioso gerido pelo homem. De fato, o vínculo com o setor elétrico fez parte da sua gênese, ingressando em 1972, através de concurso público, na Companhia Energética de Alagoas – CEAL, desenvolvendo atividades nas seguintes áreas: Orçamento, Mercado, Procedimentos Comerciais, Comercialização de Energia Elétrica, Conservação de Energia e Direito da Eletricidade. Foi membro da Comissão Mista de Análise de Mercado pela ELETROBRÁS, do Comitê Coordenador de Operação Norte e Nordeste – CCON, dentre outros, permanecendo na empresa até 1998, quando saiu por aposentadoria. Em 2002, ingressou na então criada Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de Alagoas – ARSAL, sendo o primeiro Ouvidor. Exerceu a função de Coordenador de Regulação de Tarifas e Estudos Econômicos, deixando a agência em 2011, ocasião em que abriu uma empresa de consultoria nas áreas de energia e propriedade intelectual.
Outra paixão oriunda da sua origem é a música, iniciando-se aos sete anos de idade na escola e Banda de Música de Delmiro Gouveia, apoiada pela Companhia Agro Fabril Mercantil, sendo o seu genitor o grande incentivador, pois como exímio músico (bombardinista/trombonista) e Diretor Residente da fábrica proporcionou os meios estruturais para a formação dos jovens e estímulo aos mais velhos, todos funcionários da empresa. A estréia do autor e mais seis crianças entre dez e onze anos na Banda de Música – Danúbio (Sax Alto), Joval (Requinta), Ivan (Barítono), Paulo (Sax Tenor), Jairo (Sax Soprano), Valdenor (Piston) e Antônio Maranhão (Trombone) –, ocorreu em 1959, e situações especiais transcorreram naquela noite:
a) Como nenhum de nós dispunha de instrumentos musicais próprios, os adultos cederam os respectivos, obviamente umedecidos de saliva e se não bastasse esse inconveniente, o trombone que o Antônio Maranhão recebera do torneiro mecânico Dedeu estava repleto de cuscuz, gerando uma risada geral com a aflição e cuspideira do Antônio;
b) Passado o sufoco do trombonista e a descontração dos demais – o que de certa forma foi oportuno, pois estávamos ansiosos e super nervosos, o Maestro José Nicácio de Souza sinalizou com a batuta e iniciamos o dobrado, tocando a primeira e a segunda partes. Quando preparávamos para o trio, faltou, abruptamente, energia elétrica, que após longa espera e profunda tristeza o ensaio fora encerrado;
c) Em ato contínuo, o meu Pai segurando a minha mão direita disse: filho vamos aproveitar para visitarmos um amigo. Caminhamos por alguns instantes na escuridão e ao longe se enxergava uma tenra luz. Ao chagarmos na residência do Pároco Fernando, pude observar que se tratava de uma lamparina e ainda contraindo as pupilas percebi a silhueta de um homem estendido em uma luxuosa rede, contando causos, vindo, após longos minutos, descobrir que ali repousava Luiz Lua Gonzaga, o rei do Forró e do Baião.
Em 1963, ladeado por João Nobre e Silva, Alânio Dardenos, Alfredo Gazzaneo, Rodrigo Ramalho, Carlos Alberto (Arapiraca), Marcelo Barros, Mário Medeiros Cardoso e José Dória fundou o Conjunto Marista, do Colégio Marista de Maceió, o qual ganhou projeção através das festas de Pais e Mestres, aniversários dos alunos do colégio etc. Com a influência dos Beatles deu origem ao The Tunder's Boys – João Nobre, Alânio, Wilson Protásio, Ivan Cardoso, Dedéo – e após contrato com o Clube Tênis de Maceió, criou Os Tênis Boys. Em 1965 fez brotar o famosíssimo Grupo 6 – juntamente com João Nobre, Alânio, Ivan Cardoso, Antenor Fernandes, Carlos Bala, João Lyra e Marcelo – o qual existe até hoje. Na CEAL fundou o famoso XI-KI-TIM e, paralelamente, integrou o Grupo Chorinho Novo. Também tomou parte de um quarteto para música instrumental, denominado JBLMaster, composto por Fred Bosch, in memoriam, (piano); João Nobre (baixo vertical); Marco Tenório (bateria) e Danúbio Lacerda (saxofone).
No final da década de 1970, teve participação efetiva no GRUPO NOSSO, formado em sua maioria por funcionários da antiga Companhia de Eletricidade de Alagoas – CEAL, sob a sua liderança. O grupo abrilhantava as boates do Clube da CEAL, na praia de Riacho Doce, Maceió-AL, às sextas-feiras. Inconformado com os poucos ensaios e apresentações apenas nos finais de semana, administrava o tempo para participar de show musicais em palcos diversos, assim como em Festivais de Música, não ficando excluso o III FUM – Festival Universitário de Música, promovido pelo DCE/UFAL (Departamento Central dos Estudantes/Universidade Federal de Alagoas), em 1981, e um dos Festivais de Música do SESI. O Danúbio teve participação efetiva, como saxofonista, nas gravações que realizamos, tais como: o LP Convite e do III FUM. Discretamente, ele publica no Facebook uma partitura de uma música que dedica a um amigo de sua terra natal. Logo após, vem outra, outra e mais outra, onde se pode constatar o despertar de um compositor que, até então, repousava num profundo silêncio uterino, quiçá pela indisposição de abrir os olhos para atender aos anseios da DONA INSPIRAÇÃO, que nos visita com certa assiduidade. Ainda bem que o nosso querido amigo atendeu ao chamado dessa Dona provocante e insistente, que o inicia numa nova fase em sua vida na ARTE PRIMEIRA.