Zé Gordo
JOSÉ RAMOS DE SOUZA nasceu em Pão de Açúcar-AL, no dia 19 de março de 1934, filho de Luiz José de Souza, conhecido como Lulu (1905-1965) e Izaura Ramos dos Santos (1914-1997). A veia musical se deu pelo lado materno. Sua mãe tocava violão e gostava de cantar, incentivando os filhos na arte musical. ZÉ DE LULU, como era chamado pelos que o conheceram quando ainda jovem, era o primogênito de sete irmãos, todos músicos e quase todos maestros. Acilon (1935-1999) regeu a Banda da Polícia Militar de Pernambuco; Anacleto e Petrúcio regeram a Banda da Base Aérea de Salvador-BA, que tinha outro irmão, Valter, como notável solista de sax alto e César (1949-2006), destacado trompetista, viria a reger a Banda da Polícia Militar da Bahia.
Apesar de tocar violão, Terezinha, a mais jovem, não se dedicou profissionalmente à música. Seu aprendizado se deu no Grupo Escolar Bráulio Cavalcante e na Oficina do Mestre Nozinho, o Maestro Manoel Victorino Filho (1895-1960), incansável e abnegado fazedor de músicos, onde todos aprenderam um outro ofício, neste caso o de alfaiate.
Na Banda de Música regida pelo velho mestre, ZÉ DE LULU iniciou tocando tambor. Em 1946 era trompista e já no ano seguinte participa do seu primeiro carnaval, tocando banjo. Em 1949 passa para o trompete, onde se revela notavelmente expressivo e dedilha o saxofone. Em 1951, aos 17 anos, deixa Pão de Açúcar e ruma para Paulo Afonso-BA, onde começa trabalhando como guarda da CHESF - Companhia Hidrelétrica do São Francisco, ao tempo em que participa da Banda de Música da empresa. Passou ainda pela Sociedade Musical Penedense e em meados dos anos 1950 se muda para Maceió-AL, indo trabalhar na Rádio Difusora de Alagoas. Como o salário da Rádio atrasava, ele encontrou uma alternativa junto às orquestras e conjuntos diversos. Em 1958 ingressa na Polícia Militar do Estado de Sergipe e alcança a patente de 1º Sargento Ensaiador da Orquestra de Baile da Corporação, chegando a realizar uma apresentação magistral no Palácio do Governo a convite do então Governador Luiz Garcia. No desejo de dedicar-se em tempo integral à sua arte, pede baixa pouco tempo depois. Participou por pouco tempo da Orquestra da Rádio Difusora de Sergipe e de uma Banda de Música na pequena cidade de Lagarto-SE.
Em busca de melhores oportunidades, deixa o Nordeste em 1960, transferindo-se para a cidade de Santos-SP, no litoral paulista, lugar que escolheu para viver. Era o auge das boates do Porto, do Balneário. Lá encontrou trabalho abundante em pequenos Conjuntos e grandes Orquestras. Como multi-instrumentista, levava vantagem sobre os colegas, o que lhe permitia abrir várias frentes de trabalho, tocando o que precisasse. Em Santos, foi integrante de grupos como o Original Music and Choral e Os Praianos. Participou também da Banda da UNITAS, quando de sua viagem de integração ao Brasil e na sua fase final da Jazz Big Band.
Em 1978 foi um dos fundadores da Banda Reveillon que marcou época em São Paulo-SP por reunir grandes instrumentistas como os saxofonistas e arranjadores Apóstolo Seco (Bauru) e Antônio Arruda (Cangaceiro), o trombonista e arranjador Roberto Gagliardi, o guitarrista Joseval Paes, o pianista Roberto Dantas, o trompetista Luiz Carlos Costa, o percussionista Rui di Tore e o contrabaixista João Barão, entre outros. Em 1988, durante o reveillon, a TV Bandeirantes exibiu um especial histórico com a Banda.
Em 1995, deixa a Reveillon e passa a se dedicar às suas composições, sempre deixadas em segundo plano por conta da rotina de viagens e gravações, reunindo-as, então, numa pequena coletânea em que predominam os choros. Compunha também boleros, valsas, frevos, baiões e um dobrado. Homem generoso, não se negava a ensinar a quem quer que o procurasse, deixando vários alunos espalhados pelo país. Amou a sua arte de forma incondicional e procurou transmitir este sentimento a todos que o cercavam. Foi assim que se despediu definitivamente para um Plano Superior, no dia 23 de abril de 2007.
Em 1989, o Maestro Luiz Arruda Paes (1926-1999), seu grande amigo, escreveu para ele uma peça chamada de Quatro Ventos, valendo-se do seu grande talento de multi-instrumentista. Não é uma obra original do ponto de vista composicional, mas um pot-pourri de canções consagradas de vários autores para que ZÉ GORDO, como era chamado pelos colegas, para que exibisse suas qualidades no trompete, trombone, sax alto e tenor. Deixou a esposa Valdice Machado de Souza, a quem dedicou uma de suas composições, e cinco filhos.